segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Vejamos nossa divisão de base - EXTRA

Do pesadelo ao sonho, Botafogo colhe os frutos de um novo trabalho nas divisões de base

Um quadro com a foto de Garrincha jogado no lixoFoto: / Arquivo pessoal
Barata em meio a copos descartáveis Foto: / Arquivo pessoal
Leonardo André
Para um clube que sempre se orgulhou de ceder jogadores para a seleção brasileira, ter o ex-apoiador Beto como a sua grande revelação nas últimas duas décadas podia ser um sinal de que algo estava errado nas divisões de base do Botafogo. Mas o panorama encontrado em Marechal Hermes ao final da gestão de Bebeto de Freitas deixou a certeza de que muito precisava ser feito.
Entulhos, focos de dengue, baratas em meio a copos descartáveis, fichas de jogadores rasgadas, parte da história do clube no lixo, um cenário assustador. A reconstrução começou praticamente do zero. Quatro anos depois, os frutos começam a ser colhidos, e o torcedor já se acostumou com Dória, Gilberto, Gabriel e até se despediu de Vitinho, vendido recentemente por R$ 30 milhões.
— Quando cheguei a Marechal Hermes, em 2009, o cenário era caótico. Durante muito tempo, perdemos jogadores que preferiam ir para o Madureira, o Nova Iguaçu, clubes menores, mas que tinham estrutura melhor. Mudamos a mentalidade, trabalhamos muito, e os resultados começaram a aparecer — lembra Sidnei Loureiro, ex-coordenador das divisões de base e que atualmente é gerente técnico dos profissionais.
Para mudar o cenário, foi criada uma força-tarefa. As divisões de base passaram a dar atenção especial aos serviços de psicologia, nutrição, fisiologia e fisioterapia. Além da formação de atletas, houve a preocupação de acostumá-los aos desafios da profissão.
— Existe sempre o dilema de formar jogadores ou ganhar títulos. Para mim, são coisas que caminham juntas. O atleta só é mentalmente forte se está acostumado a ganhar e preparado para perder. Passamos a participar mais de torneios internacionais, os mais jovens passaram a jogar mais e contra adversários como Milan, Borussia Dortmund. Isso fortalece o garoto, ele fica mais preparado para os desafios — destaca Sidnei.
Hoje, cerca de R$ 7 milhões são investidos pelo clube nas divisões de base por ano. Enquanto o Botafogo briga na Justiça para liberar as obras do CT de Marechal Hermes, os treinos do infantil ao juvenil são no Caio Martins. Do atual elenco profissional, 46% são jogadores formados no clube. Jovens como Dória, Gilberto e Gabriel já são realidades. A certeza é de que outros também vão se destacar em breve.
— Quem será o próximo a fazer sucesso é uma incógnita. Nós construímos um ambiente saudável e de respeito para os garotos. Quando o cenário é favorável, as chances de sucesso são muito maiores — ensina Sidnei.
Futuro CT de Marechal Hermes terá alojamento, refeitório e escola
Futuro CT de Marechal Hermes terá alojamento, refeitório e escola Foto: Terceiro / Agência O Globo
Para descobrir novos talentos, o Botafogo criou um setor de estatísticas e imagem, comandado por Marcelo Xavier, Alfe Assis e Gabriel Oliveira. São eles que buscam informações detalhadas de jogadores de outros clubes. O técnico Oswaldo de Oliveira também conta com os auxiliares Jair Ventura, Eduardo Húngaro e Luís Alberto para analisar os adversários alvinegros. Foi assim que Hyuri e Elias foram contratados de Audax e Resende, respectivamente.
Outro ponto importante foi a decisão tomada no início do ano de montar um elenco com três jogadores para cada posição, sendo um, obrigatoriamente, visto como promessa.
—O Oswaldo abraçou a ideia. Para o Estadual, o elenco ficou inchado. Mas agora todos perceberam que foi a melhor decisão. Sabíamos que haveria lesões, queda de rendimento, atletas negociados. Hoje, temos reposição — lembra Sidnei Loureiro.
Revelado na base, Dória é titular desde o Estadual deste ano
Revelado na base, Dória é titular desde o Estadual deste ano Foto: Marcelo Theobald / Agência O Globo
No projeto traçado em janeiro também ficou decidido que os juniores passariam a treinar junto com os profissionais, para evitar a dificuldade de adaptação a uma nova realidade na carreira.
— Foi uma iniciativa sensacional. O Eduardo Húngaro (técnico da equipe sub-20) veio trabalhar como meu assistente e isso facilitou demais essa transição. A filosofia do profissional e dos juniores é a mesma, algo que ajuda muito na adaptação dos mais jovens — acredita Oswaldo.
Quem passou por esse processo não tem dúvidas de que viver o ambiente do time profissional um bom tempo antes de estrear no time de cima foi fundamental para uma adaptação mais rápida.
— Não me assustei quando fui relacionado pela primeira vez, porque já vinha treinando perto dos profissionais. Eu era cobrado como um deles, sabia como agir — destaca o lateral-direito Gilberto.
Titular desde o Estadual, o zagueiro Dória acredita que a confiança nos juniores aumentou com todos estando mais perto no dia a dia.
— Eu subi com idade de juvenil e me sentia pronto pelo acompanhamento que tenho desde a base. Hoje, com todos por perto, o treinador sabe com quem pode contar.

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