domingo, 22 de setembro de 2013

Pré-jogo

Na cadência do samba, músicos afinam torcida por vitória do Botafogo

Nova geração de sambistas quer ver o Bahia na roda

Fabio Falcão Cazes
Rio - A origem do samba possui duas vertentes. A primeira, e mais conhecida, defende que o ritmo nasceu no Rio de Janeiro. Já a segunda assegura que os baianos foram os pioneiros. Alheios à essa discussão, Bruno Cunha, Daniel Scisinio, Julio Estrela, Leo Russo e Tiago Souza, representantes da nova geração de sambistas cariocas e alvinegros até a alma, querem apenas ver o Botafogo colocar o Bahia para requebrar neste domingo, às 16h, no Maracanã e retomar a perseguição ao Cruzeiro, líder do Brasileirão.
É dia de colocar o Bahia na roda
Foto:  André Mourão / Agência O Dia
“Como eles dizem que o samba veio da Bahia, quem vai sambar em campo vai ser o próprio Bahia. O Botafogo vai botar na roda”, brinca Julio Estrela, de 27 anos, cujo sobrenome não tem nada a ver com o símbolo do clube.
O cantor comanda as rodas de domingo no Bar Semente, tradicional reduto do samba na Lapa e local de surgimento do Grupo Semente. Percussionista e vocalista do conjunto, Bruno Cunha, 29 anos, sabe resumir como ninguém o espírito alvinegro.
“Ele tem essa malandragem de ser amigo. Não tem botafoguense vacilão”, garante o sambista, que lançará dois CDs em dezembro: ‘15 anos de Lapa’ com o grupo e ‘Origem’, de sua carreira solo.
Parceiros na torcida pelo Botafogo e no conjunto Unha de Gato, que está lançando o CD 'Vários Brasis', Daniel Scisinio, 30, e Tiago Souza, 32, foram influenciados pelos pais na escolha do time e mantiveram o amor pelo clube de General Severiano, ainda mais depois que perceberam que ele tinha algo diferente.
“Quem vem de fora sempre escolhe, primeiro, Flamengo e Mangueira para torcer. Então, ser botafoguense é ser diferente”, explica Daniel, citando a maior torcida do futebol carioca e das escolas de samba.
“É muito difícil o torcedor do Botafogo não ser apaixonado porque não é o time da moda. Em 1989 (ano do título Carioca após 21 anos de jejum), o Botafogo conseguiu juntar a nossa geração”, complementa Tiago, que não acredita num time abatido após a derrota por 3 a 0 para o Cruzeiro: “Não abalou em nada. A torcida abraçou o time e, aos poucos, vamos chegar. Na reta final, vamos dar a arrancada para o título. Vamos ganhar a Copa do Brasil e o Brasileiro. Temos Seedorf.”
Exibindo com orgulho o autógrafo de Beth Carvalho na camisa, Leo Russo, 24, sabe na ponta da língua o samba que não pode faltar na comemoração das vitórias.
“Tem que ter ‘Vou festejar’, samba que ficou imortalizado na voz da grande sambista alvinegra Beth Carvalho. Pedi para ela autografar minha camisa quando gravou comigo o meu primeiro CD”, conta Leo, cujo CD sai no próximo mês.

Por onda anda? A lenda Manga

Goleiro é ídolo e o que mais ganhou títulos pelo Botafogo

Marcia Vieira
Rio - Os dedos tortos das mãos deformadas, por uma série de fraturas em 27 anos de carreira, são marcas registradas de uma lenda viva do futebol. Não havia bola perdida para o gigante que dispensava luvas e fazia milagres debaixo do gol. Seu nome, Haílton Corrêa de Arruda, o Manga, goleiro das defesas impossíveis. Foi assim no Botafogo, onde é considerado o melhor camisa 1 de todos os tempos, no Nacional-URU, Internacional, e Barcelona, de Guaiaquil, onde encerrou a carreira, aos 45 anos. Em uma rápida passagem no Rio, no último fim de semana, Manga matou a saudade do seu Botafogo e recebeu homenagens. Como eternizar as mãos em um molde de cimento para o hall dos grandes ídolos da história do clube. Mas antes de voltar ao Equador, onde mora há 33 anos, fez um pedido.
Manga exibe as marcas da carreira destemida
Foto:  Severino Silva / Agência O Dia
“Para quem está aposentado há tanto tempo é emocionante conhecer o estádio do Botafogo, saber que a torcida e os dirigentes não se esqueceram de mim. Eu não disse nada a eles (dirigentes), mas gostaria que o Botafogo fizesse uma camisa com a minha mão quebrada. Seria um orgulho para mim”, pediu o mito, que é o quinto jogador que mais vestiu a camisa alvinegra na história: 442 vezes. Além de ser o maior ganhador de títulos: três Rio-São Paulo (62,64,66), uma Taça Brasil (68) e quatro Cariocas (61,62,67,68), entre outros.
Perguntado sobre seu herdeiro no futebol, ele diz não ter seguidores.
“Depois que parei não teve nenhum goleiro parecido comigo. Era muito valente, não brincava debaixo dos três paus. Joguei mais de dez anos sem luvas. Meus dedos são tortos, quebrados. Não tem nenhum inteiro, mas são motivos de orgulho”.
Manga foi homenageado pelo Botafogo
Foto:  Severino Silva / Agência O Dia
Aos 76 anos, o ex-goleiro tenta repassar sua experiência para jovens promessas.
“Tenho uma escolinha em Guaiaquil com 25 crianças de 10 a 7 anos. Trabalho todos os dias. Apesar da idade não consigo ficar longe do gol”.
O futebol também não se esquece de Manga. Não é por acaso que o dia 26 de abril, data do seu aniversário, foi escolhido para ser o Dia do Goleiro. Poderia haver reverência maior?
Falha na Copa de 1966 foi um pecado
O maior trauma da carreira de Manga ocorreu na Copa do Mundo de 1966, na Inglaterra. Ao substituir Gilmar no jogo contra a seleção de Portugal, o Brasil perdeu por 3 a 1 e foi eliminado da competição.
“Não joguei bem, admito. Foi a minha primeira partida e estava nervoso. Eu falhei, mas não joguei sozinho, todos perderam também. Eu pedi desculpas, levantei a cabeça e segui trabalhando”.
Manga em ação pelo Botafogo
Foto:  Arquivo
Manga também falou sobre os goleiros atuais. Elegeu o alemão Manuel Neuer, do Bayern de Munique, como o melhor da atualidade, e elogiou os brasileiros.
“O Julio Cesar é um grande goleiro, mas o Jefferson também tem todas as condições de ser titular. Estamos muito bem servidos”, concluiu.
Goleiro reencontra o filho 38 depois
Em sua visita ao Rio, Manga fez um acerto de contas com o passado. Após se separar da primeira mulher, ele perdeu contato com os filhos: Adílson, que morreu há dois anos, e Wilson, que reencontrou 38 anos depois, em meio a muitas lágrimas.
“Fiquei muito feliz de reencontrá-lo, de conhecer meus netos. Cometi um erro. Pena que não pude fazer o mesmo com o Adílson, que se foi”, lamentou, tentando conter as lágrimas.
Parecido com o pai, Wilson não escondeu a emoção.
“Eu o vi pela última vez com 12 anos, hoje tenho 50, mas não tenho mágoa”, revelou o filho de Manga, que tentou seguir seu passos no futebol.
“Fui goleiro do Náutico, em 86, mas tive poucas chances e segui outro caminho”.

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